
Superaquecimento global acelera colapso ambiental e expõe Amazônia a nova crise hídrica
Por Camila Eneyla Costa
O mundo vive um momento crítico. Em fevereiro de 2025, a temperatura média global ultrapassou 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais pela terceira vez consecutiva. O dado, considerado simbólico nos acordos climáticos, confirma que o superaquecimento do planeta não é mais uma projeção futura — é uma realidade em curso.
A elevação das temperaturas tem efeitos imediatos e devastadores. No Polo Norte, cientistas registraram águas até 20 °C mais quentes que o normal. O Ártico aquece quatro vezes mais rápido que a média global e alcançou a menor cobertura de gelo já vista em pleno inverno. A Groenlândia derrete a uma velocidade 17 vezes maior do que há décadas, contribuindo para o aumento do nível do mar.
Na Antártica, a situação é igualmente alarmante: a extensão de gelo marinho bateu recorde de baixa em fevereiro de 2025, segundo o National Snow and Ice Data Center. Estudos recentes apontam que o Oceano Ártico poderá ficar completamente livre de gelo no verão antes de 2030.
Amazônia: o epicentro da crise hídrica brasileira
Enquanto o gelo derrete nos polos, o Brasil seca. Entre 2023 e 2024, a Amazônia enfrentou a pior estiagem em quatro décadas. Rios como o Negro e o Solimões atingiram níveis historicamente baixos, isolando comunidades, interrompendo o transporte fluvial e comprometendo o abastecimento de água e alimentos.
No Amazonas, a seca extrema de 2024 teve impactos dramáticos sobre a fauna aquática, especialmente no Lago Tefé, onde a combinação entre o recuo acentuado das águas e o aumento das temperaturas – que chegaram a picos de 40 °C – resultou na morte de dezenas de botos-vermelhos e tucuxis, espécies já ameaçadas de extinção. Além do sofrimento dos mamíferos aquáticos, a estiagem também provocou a mortandade de peixes e agravou a situação de comunidades ribeirinhas, que enfrentaram isolamento e dificuldades de acesso à água potável e alimentos. Pesquisadores alertam que a continuidade desse cenário pode comprometer ainda mais a biodiversidade local e a segurança alimentar da população amazônica
A seca extrema também ameaça os modos de vida ribeirinhos e a biodiversidade regional. O UNICEF estima que quase 500 mil crianças estejam em risco por falta de água potável, alimentos e acesso à escola na região.
Crise anunciada: impactos intensificados pelas mudanças climáticas
A atual situação não é apenas uma tragédia natural — é o resultado direto da inação diante de advertências científicas reiteradas. Por décadas, pesquisadores alertaram que o aumento das emissões de gases de efeito estufa provocaria alterações drásticas no regime de chuvas, elevação do nível do mar e colapsos ecológicos. O que antes era tratado como hipótese distante hoje se confirma em dados, imagens de satélite e relatos de comunidades afetadas.
A seca de 2005, antes considerada um marco extremo na Amazônia, tornou-se apenas uma referência preliminar frente aos recordes de 2023 e 2024. O “Atlas da Violência Climática” mostra que o Brasil vive um crescimento de 460% nos desastres climáticos desde os anos 1990, o que escancara a intensificação do problema. Os impactos vão muito além do meio ambiente: ameaçam vidas humanas, a segurança alimentar, a estabilidade econômica e os direitos sociais. Segundo estimativas, cada 0,1 °C adicional de aquecimento pode gerar prejuízos de R$ 5,6 bilhões ao ano para o país.
Estamos diante de uma crise anunciada, mas negligenciada por sucessivos governos e setores produtivos que ainda resistem a adotar transições ecológicas profundas.
Educação ambiental como ferramenta estratégica
Neste cenário alarmante, a educação deixa de ser apenas uma ferramenta de conscientização e passa a ser um instrumento de defesa civil e cidadania. Formar jovens capazes de compreender os mecanismos do aquecimento global, interpretar dados climáticos e se engajar em soluções locais e globais tornou-se uma prioridade estratégica.
Professores e estudantes desempenham um papel fundamental na construção de resiliência social. A sala de aula precisa ser também um espaço de preparo para o enfrentamento de eventos extremos, de debate sobre justiça climática, e de incentivo à participação em decisões políticas que moldarão o futuro do país.
Belém e a COP30: a Amazônia no centro das decisões climáticas globais
A proximidade da COP30, que será realizada em 2025 na cidade de Belém — capital do Pará, no coração da Amazônia brasileira — representa uma oportunidade histórica e profundamente simbólica. Promover o maior encontro climático do planeta em uma metrópole amazônica reforça a urgência de proteger o bioma que é considerado o “pulmão do Brasil” e um dos reguladores climáticos mais importantes do mundo. Belém será palco de decisões globais que precisam considerar não apenas metas de carbono, mas também justiça ambiental, financiamento para adaptação e proteção dos povos da floresta. O evento precisa refletir o protagonismo da educação ambiental como eixo transversal das negociações e políticas públicas. Sem um povo informado, engajado e crítico, nenhum acordo internacional será suficiente para reverter a crise climática.
Fontes e referências: National Snow and Ice Data Center (NSIDC), Copernicus Climate Change Service (C3S), IPCC, The Guardian, Washington Post, Financial Times (FT), UNICEF, Atlas da Violência Climática, INMET, INPE, além de entrevistas e reportagens locais (G1, Amazônia Real, O Liberal).