Colapso à Vista? O Impacto Interligado do Clima, Crescimento Populacional e Produção de Alimentos

Clima extremo, explosão populacional e pressão agrícola convergem e exigem resposta conjunta.


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Por Vicente Crispino.

A humanidade enfrenta um desafio sem precedentes: o entrelaçamento entre o clima, o crescimento demográfico e a segurança alimentar. A Terra aqueceu cerca de 1,1 °C desde a era pré-industrial. Entre 2011 e 2020, vivemos a década mais quente já registrada — um cenário que intensificou secas, enchentes e ondas de calor, comprometendo diretamente as colheitas.

De 2010 a 2023, a produção agrícola cresceu 27%, atingindo 9,9 bilhões de toneladas. No entanto, o alimento disponível por pessoa subiu apenas 5%. O que explica esse abismo? Parte da colheita se perdeu entre consumo animal, biocombustíveis e desperdício. E enquanto isso, a produtividade agrícola global perdeu fôlego: caiu de 1,93% ao ano (2001–2010) para apenas 1,14% (2011–2021).

Com 8 bilhões de habitantes em 2022 e uma projeção de 10,3 bilhões até a década de 2080, o crescimento da população é desigual. A África Subsaariana concentrará mais da metade desse aumento até 2050, enquanto China, Japão e Portugal já veem suas populações encolherem. A urbanização e a demanda por proteínas animais ampliam ainda mais o estresse sobre os sistemas agrícolas.

O paradoxo salta aos olhos: a agricultura é vítima e vilã da crise climática. Responde por cerca de 25% das emissões globais, com destaque para o desmatamento, o metano e os fertilizantes. E a tentativa de expandir áreas cultivadas para compensar perdas climáticas só piora o ciclo: mais desmate, mais carbono, mais eventos extremos — e menos comida.

Essa teia de relações cria fragilidades sistêmicas: o derretimento no Ártico altera ventos e chuvas; a acidificação do oceano ameaça os peixes; e conflitos armados combinam choques climáticos e alimentares. Os mais pobres são os mais afetados, o que amplia desigualdades e instabilidades.

Para interromper esse ciclo, só há um caminho: pensar de forma sistêmica. Isso exige políticas públicas coordenadas — globais, nacionais e locais — que articulem clima, agricultura e população. Tecnologias como biotecnologia, inteligência artificial e agricultura regenerativa são promissoras, mas precisam vir acompanhadas de mudanças no consumo, promoção da equidade e investimento estratégico em pesquisa, infraestrutura e educação — com foco especial em mulheres e jovens.

A próxima década é a janela crítica. Os efeitos das decisões de hoje só aparecerão no longo prazo, por conta da inércia climática e demográfica. Mas a urgência é agora. A omissão de hoje será o colapso de amanhã.

Fontes:
Organização das Nações Unidas – Causas e efeitos das mudanças climáticas
ONU News – População mundial atingirá 10,3 bilhões em meados da década de 2080
Agrolink – Produção global de alimentos acompanha demanda crescente
USDA via SeedNews – Produtividade agrícola desacelera nos últimos anos
Observatório do Clima – Última década viu intensificação alarmante da crise do clima


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