
São João em Belém: tradição, cultura e impacto econômico em alta
As festas juninas deixaram de ser apenas expressão popular e tornaram-se motor de desenvolvimento econômico. Em Belém, o São João movimenta o comércio, gera empregos temporários, aquece o turismo e fortalece a cultura local.
Por Camila Eneyla Costa.
O São João tem raízes ancestrais nos rituais pagãos do solstício de verão europeu, mais tarde absorvidos pelo calendário cristão como forma de homenagem aos santos populares: Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. No Brasil, chegou com os colonizadores portugueses no século XVI e foi rapidamente absorvido pelas culturas indígenas e africanas. No Norte e Nordeste, a festa ganhou expressão única e multifacetada, unindo religiosidade, dança, música e gastronomia.
Em Belém, a celebração vem ganhando corpo como evento estratégico. Com iniciativas como o Parárraiá, realizado no Mangueirão, o São João atrai multidões, aquece o comércio e amplia o faturamento de pequenos negócios. Segundo o DIEESE, pratos típicos tiveram alta de até 16% entre maio e junho, refletindo tanto o aumento da procura quanto o potencial econômico da temporada. A gastronomia é peça central dessa engrenagem, com vendedores relatando crescimento expressivo nas vendas e valorização da culinária típica.
Além das vendas, o São João também se destaca como período de forte geração de empregos temporários. Em todo o Brasil, uma pesquisa nacional apontou que 46% das pessoas perceberam a criação de vagas específicas para o mês de junho. Em Belém, o movimento se repete: eventos juninos demandam profissionais em segurança, montagem de palcos, limpeza urbana, confecção de trajes e alimentação. Costureiras como Rossana Araújo, por exemplo, relatam aumento de até 80% no faturamento, contratando auxiliares desde abril para atender à demanda escolar e comunitária por fantasias e trajes típicos.
O turismo também ganha fôlego. Belém se torna destino regional para quem deseja vivenciar os festejos em meio à cultura amazônica. Restaurantes, transportes e hospedagens percebem aumento na procura, com visitantes consumindo não só os pratos típicos, mas também o artesanato local e experiências culturais.
Embora o São João ainda não atinja a magnitude do Círio de Nazaré — que movimenta cerca de R$ 189 milhões e atrai 2 milhões de pessoas —, especialistas veem no período junino um espaço de expansão promissor. A festa consolida-se como alternativa complementar ao calendário de grandes eventos da cidade, com potencial para gerar desenvolvimento sustentável, impulsionar o turismo interno e reforçar a identidade paraense.
Comparativo entre São João e Círio de Nazaré
Indicador | São João (junho) | Círio de Nazaré (outubro) |
Público | Milhares por noite nos arraiais | Cerca de 2 milhões de pessoas durante 2 semanas |
Impacto econômico | Aumento de preços (+16%) nas comidas; milhões injetados na economia local | Geração de ~R$ 189 milhões e 89 mil turistas |
Setores beneficiados | Alimentação, vestuário, artesanato, economia informal | Comércio, turismo, serviços, indústria |
Envolvimento institucional | Apoio do Ministério do Turismo (Parárraiá) | Presença do MTur e inclusão em programas de valor imenso |
Potencial de crescimento | Em expansão, com ampliação dos arraiais nos bairros | Consolidado como maior evento religioso do Norte |