Bebês Reborn, estamos substituindo crianças por bonecos?
Por Vicente Crispino.
A crescente popularidade dos bebês reborn, bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos, revela muito mais do que uma tendência passageira. Ela escancara o retrato de uma sociedade que, aos poucos, está trocando o real pelo simulacro, o humano pelo artificial. O que começou como uma forma artística ou terapêutica, hoje beira o absurdo. Há adultos que os alimentam, vestem, passeiam com eles em carrinhos de bebê e os tratam como se fossem filhos.
Mas o que isso revela? Uma carência afetiva extrema? Uma recusa ao vínculo real, com todas as suas dores e incertezas? Ou uma sociedade que está se afastando da vida autêntica para viver em uma bolha emocional plastificada?
A pergunta que surge é inquietante, qual será o próximo passo?
Se já temos bonecos que imitam bebês com perfeição visual, por que não adicionar voz, personalidade e emoções artificiais a eles? Com o avanço da inteligência artificial, já é perfeitamente possível implantar sistemas de resposta por voz, sensores de movimento, reconhecimento facial e reações programadas. Imagine, um bebê reborn que chora, sorri, responde ao toque e diz “mamãe” com a ajuda de um software.
Estamos muito próximos disso, e talvez já seja tarde demais para voltar atrás.
Não se trata de uma crítica rasa a quem busca conforto emocional, mas de um alerta, quando a sociedade começa a substituir vínculos humanos por vínculos com máquinas, é sinal de que algo está profundamente fora do lugar. Crianças reais, com suas imperfeições e imprevisibilidades, estão sendo trocadas por bonecos silenciosos e obedientes. Um mundo onde o afeto é simulado e o cuidado é unilateral não é um mundo saudável, é um mundo solitário.
Talvez o reborn do futuro venha com Wi-Fi, bateria recarregável e personalidade personalizável por aplicativo. E quando isso acontecer, vamos nos perguntar, em que momento decidimos que amar de verdade era arriscado demais?