Abuso sexual infantil: A luta diária pela proteção das crianças
Por Camila Eneyla.
A cada hora, três crianças são vítimas de abuso sexual no Brasil. Os dados chocam e revelam a face mais sombria de uma realidade silenciosa: mais de 500 mil casos de violência sexual infantil acontecem anualmente, mas apenas 7,5% são formalmente denunciados às autoridades. A maioria das vítimas tem entre 1 e 5 anos de idade e, em quase 70% dos casos, os abusos ocorrem dentro da própria casa, cometidos por familiares ou pessoas próximas. A campanha Maio Laranja, criada para alertar a sociedade sobre essa grave violação de direitos, precisa ser encarada não como um movimento temporário, mas como um compromisso diário com a proteção da infância.
Esse compromisso começa dentro de casa, com atitudes simples, mas fundamentais. Estabelecer uma relação de confiança com a criança, criando um ambiente seguro onde ela possa falar sobre o que sente, é o primeiro passo para a prevenção. É essencial que os pais e cuidadores ensinem, desde cedo e com linguagem apropriada à idade, que partes íntimas são privadas e que ninguém, em hipótese alguma, pode tocá-las sem consentimento — exceto em situações de higiene ou cuidados médicos supervisionados. Esse diálogo contínuo fortalece os vínculos familiares e permite que a criança se sinta à vontade para relatar qualquer situação desconfortável, conectando diretamente com a necessidade de vigilância ativa dos adultos.
Estar presente na vida escolar da criança também é uma forma de proteção. Conversar com professores, acompanhar o rendimento escolar, anotar observações e manter contato constante com quem convive com a criança fora do ambiente doméstico ajuda a identificar sinais comportamentais sutis que podem indicar abuso, como isolamento, medo, irritabilidade ou mudanças bruscas de comportamento. Quando há um vínculo emocional construído com afeto e presença, a criança se sente vista, amada e, acima de tudo, protegida — e isso pode fazer toda a diferença diante de uma tentativa de violência.
Infelizmente, muitas vezes, os abusadores são pessoas próximas, como vizinhos, tios, padrastos, babás ou até irmãos mais velhos. Por isso, é fundamental que pais e cuidadores não deixem suas crianças sob os cuidados de qualquer pessoa, por mais familiar que pareça. É necessário cultivar uma postura crítica, atenta e protetora, sem medo de parecer exagerado. É justamente essa atenção que pode impedir traumas profundos e salvar vidas. E quando há qualquer suspeita, o silêncio nunca deve ser uma opção.
A denúncia é o caminho mais eficaz para romper o ciclo de abuso. O canal Disque 100 funciona 24 horas por dia e permite que qualquer cidadão denuncie, de forma anônima, casos de violência sexual, maus-tratos e negligência. Também é possível acionar os Conselhos Tutelares, delegacias especializadas ou o Ministério Público. A omissão perpetua o sofrimento. A denúncia, por outro lado, pode ser o primeiro passo para a justiça e o acolhimento da criança. E aqui entra o papel crucial de cada um de nós na sociedade.
É dever dos adultos proteger as crianças — mesmo aquelas que não são suas. Se você presenciar ou suspeitar que uma criança esteja sendo maltratada, agredida ou violentada, grave, fotografe ou filme discretamente e denuncie anonimamente. A denúncia é sigilosa, protegida por lei, e pode evitar traumas irreversíveis. A integridade física e a saúde mental de uma criança devem estar acima de qualquer conveniência. Não denunciar é ser cúmplice. Proteger é um ato de coragem, de humanidade e de amor. Que o Maio Laranja nos lembre disso todos os dias.