Ananindeua e o desvio de prioridades: R$ 4,3 milhões para proteger o prefeito
Por Vicente Crispino.
O prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel, achou razoável, em pleno 2025, com todos os dados escancarando miséria e abandono, propor a criação de um Gabinete de Segurança Institucional (SGI), com orçamento de até R$ 4,3 milhões. A lógica é tão distorcida que, em vez de segurança pública, prioriza a segurança dos públicos no poder. Em vez de enfrentar o medo da população, quer blindar quem já vive blindado.
A proposta, agora retirada da pauta, nasceu sem justificativa técnica, sem estudo de impacto, sem consulta pública. Não houve sequer o cuidado de tentar parecer republicana. Em um dos municípios com um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano do país, onde faltam médicos, creches e agulhas superfaturadas, sugerir que 4,5 milhões de reais sejam destinados à proteção pessoal do alto escalão é mais do que um erro de gestão. É um ato de desapego completo à realidade.
Não é só sobre o dinheiro, embora ele falte nos bairros, nas UBS, nas escolas. É sobre a mensagem transmitida: enquanto a cidade desaba, o governo se protege. Já não basta andar em carros blindados, circular com seguranças pagos pelo contribuinte, viver cercado de privilégios visíveis e invisíveis? Agora, a ideia era institucionalizar esse medo do povo como prioridade orçamentária.
Faltou escuta, faltou bom senso, faltou respeito. Nenhuma audiência pública foi convocada. Nenhuma explicação convincente foi dada. A proposta foi retirada não por convicção, mas por pressão. A máquina recuou, mas a engrenagem continua.
Quando o poder começa a gastar mais para se proteger do povo do que para protegê-lo, algo vai mal, muito mal. Democracia nenhuma sobrevive a esse tipo de blindagem. E nenhuma cidade se desenvolve com seus governantes virando as costas para quem mais precisa deles.