Nos braços do inesperado: O dia em que tudo mudou


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Por Camila Eneyla Costa

Dentro do vasto e silencioso universo descolorido dos meus sentimentos, onde as emoções pareciam ter perdido suas nuances e tonalidades, não fui capaz de conter as lágrimas, que insistiam em correr soltas, incessantemente, por três dias consecutivos. Tudo o que me restava naquele instante era o laudo seco, clínico, frio  — o temido F84 — e uma única certeza que doía mais do que qualquer palavra: o futuro do meu filho estava longe de ser tudo aquilo que um dia planejei com tanto amor e esperança para ele. 

Lutei, com todas as minhas forças, para conter o desânimo que batia forte, como uma âncora pesada, no fundo do meu estômago. Mas as palavras da médica, desprovidas de afeto e quase anestesiadas pela rotina, vieram como um soco seco no peito — me arrancando da fantasia e me lançando, sem cerimônias, na realidade crua e impiedosa.

Sentada ainda ali, diante dela, desviei o olhar para aquele pequeno ser com apenas dois anos de idade, tentando desesperadamente encontrar em seus olhos, qualquer indício que desmentisse tudo o que eu acabara de ouvir. Mas não encontrei.

Apesar de não querer, ouvi atentamente todas as instruções e recomendações, como se minha mente estivesse gravando tudo em câmera lenta. Anotei tudo como quem se agarra a bóias em alto-mar. Ao final, estiquei o braço para cumprimentar a doutora, mas ele parecia pesar uma tonelada e minhas pernas arrastavam-se como se estivessem envolvidas na areia movediça.

Todo o sangue do meu corpo estava concentrado apenas no pulsar frenético do meu coração. Sentia como se minha alma tivesse deixado meu corpo ali naquela sala e agora, lentamente, tentava retornar. Saí do consultório carregando meu filho no colo, mas a verdade é que, naquele momento, tudo o que eu mais queria era que alguém me carregasse — não só fisicamente, mas emocionalmente também — e me dissesse, com convicção, que tudo ficaria bem.

Naquele dia, minha irmã me acompanhava. Olhei para ela com o coração partido e, sem jeito, dei a notícia, engasgada em minha garganta. Sua resposta foi imediata e firme: “Jesus seja louvado por você descobrir, reze e agradeça a Deus por ter descoberto. Quantas famílias vivem com essa dor sem saber o que é”.

No fundo, eu sempre soube. Sempre senti que havia algo diferente. Mas ninguém me escutava. Todos os profissionais repetiam, como se lessem de um manual: “É assim mesmo!”. E, naquele instante, fui tomada por um turbilhão de emoções — um misto incômodo de insatisfação e gratidão que se chocavam dentro de mim, deixando tudo ainda mais confuso. Minha garganta apertava, seca, e o único desejo   era que aquela dor passasse logo, ou ao menos, amenizasse.

Ao chegar em casa, senti como se um vendaval tivesse passado por mim, roubando minhas últimas forças. Era como se eu tivesse sido tragada por um tornado e, em seguida, cuspida de volta ao chão. Sentei no chão da sala, encostando as costas na porta, ainda com meu primogênito adormecido no colo. As lágrimas corriam livremente, sem pedir licença, em um desespero sem fim, como se tentassem limpar, com fúria, a dor que me corroía por dentro.

Somente após esse transbordamento, quando o alívio começou, timidamente, a se manifestar, consegui pegar meu japamala, buscando refúgio nos mantras. Em meio às 108 contas, clamando por justiça, senti que estava sendo literalmente partida. E no silêncio do ritual, tudo o que recebi foi consciência. Iluminação. Nada mais.

Adormeci com fome, não consegui levantar para preparar um copo de leite. E ele agarrado em meu colo, dormia enquanto mamava  — meu maior temor era que acordasse e levasse horas para sossegar novamente.  

Durante a madrugada, acordei inúmeras vezes, Perdida em meus pensamentos, embalada por angústias. O sono, mal se instalava. E assim que os primeiros raios de sol tocaram a Terra, ele despertou e olhou pra mim. Meu coração bateu forte e eu só me perguntava: Porquê você?

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  • Histórias reais como essa acontecem todos os dias no mundo.
  • Se você desconfia que alguém próximo pode ser autista, leve imediatamente ao Neuropediatra mais próximo.  
  • Por isso, não ignore os sinais e busque ajuda médica qualificada.
  • Pergunte, questione e peça ajuda da sua rede de apoio, familiares ou amigos. 
  • Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, maiores são as chances de obter qualidade de vida.
  • Que ama, cuida. 

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