Desrespeito na porta das escolas: egoísmo no volante
Por Vicente Crispino.
Belém acorda com pressa, e o bairro de Nazaré é um bom retrato disso. Entre buzinas e manobras apressadas, motoristas formam filas duplas, triplas e estacionam como se a rua fosse uma extensão do próprio quintal. O que está em jogo ali não é apenas o tempo de quem espera; é a visão de um momento que deveria ser exemplo positivo para os filhos e se torna um modelo do que não se deve fazer, ensinando às crianças que seus interesses e comodidades se sobrepõem aos das outras pessoas, um exemplo claro de egoísmo e falta de empatia com o próximo.
Essas cenas se repetem na porta dos colégios particulares: pais que se dizem preocupados com a segurança dos filhos, mas não hesitam em comprometer a dos filhos dos outros. Agem como se as leis de trânsito fossem meras sugestões e como se os agentes de fiscalização fossem obstáculos, não autoridades.
A decisão da Prefeitura de notificar esses colégios e propor medidas práticas, como a criação de pontos alternativos de embarque e desembarque e o incentivo ao transporte coletivo ou solidário, tornou-se necessária diante da falta de educação e de respeito às normas de trânsito.
O problema, no entanto, vai além das vias com filas duplas ou obstruídas. A raiz está na ausência de empatia. Está na ideia silenciosa, porém recorrente, de que o espaço público é uma extensão do espaço privado. E, quando o “meu” se sobrepõe ao “nosso”, a cidade deixa de ser comunidade e passa a ser apenas um agrupamento de desejos isolados.
Resolver o trânsito não é apenas uma questão de engenharia; é um ato de cidadania. E talvez o que Belém precise, mais do que novos terrenos ou regras reforçadas, seja de um lembrete simples: viver em sociedade exige lembrar que o outro existe.