Milhões desviados, vidas negligenciadas: o colapso da gestão em Ananindeua
Contratações suspeitas, saneamento precário e abandono da saúde mental infantil revelam uma gestão que virou as costas para o povo.
Por Vicente Crispino.
Em tempos em que a transparência deveria ser regra, Ananindeua se vê envolta em sombras. A revelação de que uma empresa fantasma recebeu mais de R$ 86 milhões em contratos com a prefeitura é apenas a ponta de um iceberg de má gestão que ameaça os pilares mais básicos da vida pública. O escândalo não é um episódio isolado: soma-se ao caos no saneamento básico e ao abandono da saúde mental de crianças e adolescentes, compondo um retrato de negligência inaceitável.
A Constituição Federal é clara: o artigo 37 impõe à administração pública os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Quando uma gestão contrata empresas inexistentes para movimentar milhões em recursos, ela viola todos esses preceitos de uma só vez. Isso configura, em tese, improbidade administrativa, uma afronta direta ao Estado Democrático de Direito.
Mais que um escândalo jurídico, estamos diante de uma grave omissão ética e social. Enquanto o dinheiro público some em contratos obscuros, bairros inteiros vivem sem saneamento digno. A água contaminada e o esgoto a céu aberto não são meros descuidos técnicos: são vetores de doenças, miséria e morte, sobretudo entre os mais pobres. É um descaso que beira o criminoso.
Não bastasse o risco ambiental, a cidade fecha os olhos para um drama silencioso: o colapso da saúde mental infantil. No CAPSi de Ananindeua, mães denunciam a falta de profissionais, medicamentos e estrutura. Crianças em sofrimento psíquico estão sendo deixadas à margem, sem diagnóstico, sem atendimento e sem esperança. Isso fere frontalmente o Estatuto da Criança e do Adolescente, além de mostrar que, para o poder público local, algumas infâncias parecem não importar.
Há também indícios de corrupção que precisam de resposta urgente. Cabe ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas aprofundar as investigações, identificar os responsáveis e garantir a responsabilização exemplar. Cada centavo desviado é um prato que faltou, uma escola que não foi construída, uma vida que poderia ter sido salva.
O desrespeito ao interesse coletivo é uma ferida aberta. A população de Ananindeua tem direito a viver em uma cidade limpa, segura e transparente. Governar é servir, e não saquear. Quando os serviços públicos falham em suas funções mais elementares, a cidadania é desfigurada e a confiança nas instituições vai por água abaixo.
Não se trata apenas de números e relatórios. Trata-se de gente. De dignidade. De vidas que estão sendo empurradas para o abandono por uma gestão que escolheu o caminho da omissão, e, possivelmente, da fraude.
https://dol.com.br/noticias/para/902105/ananindeua-empresa-fantasma-recebeu-mais-de-r-86-milhoes?d=1
https://dol.com.br/dolplay/jornalismo/903203/saneamento-e-problema-grave-em-ananindeua?d=1
Com informações de: Diário Online (DOL)