COP30 e a especulação que envergonha Belém
Por Vicente Crispino
A realização da COP30 em Belém é motivo de orgulho e de expectativa histórica. Pela primeira vez, a capital paraense será sede de um evento de tamanha magnitude, um marco internacional que coloca a Amazônia no centro das decisões globais sobre o futuro climático do planeta. Para isso, Belém está se transformando: obras de mobilidade urbana, requalificação de espaços públicos, melhorias na infraestrutura e na rede de transporte, tudo está sendo redesenhado para receber chefes de Estado, ambientalistas, pesquisadores e representantes de mais de 190 países.
No entanto, essa oportunidade única tem sido manchada por um movimento que envergonha a hospitalidade paraense: a especulação desenfreada nos preços de hospedagem. Uma rápida busca em hotéis da região central revela diárias que ultrapassam os R$ 4.000,00. Já nos aplicativos de aluguel por temporada, apartamentos e casas estão sendo anunciados por valores que beiram os R$ 600.000,00 para o período do evento. Um verdadeiro delírio imobiliário que contrasta com a realidade da cidade e com o espírito de acolhimento que deveria nortear essa celebração internacional.
A resposta do governo federal veio com a proposta de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), buscando conter a escalada abusiva dos preços. A medida é necessária, mas chega em meio a uma explosão especulativa já em curso, que pode comprometer a imagem da cidade e o sucesso do evento.
É legítimo que a economia local se beneficie da COP30. Restaurantes, taxistas, comerciantes, guias turísticos — todos devem colher frutos dessa movimentação global. Mas há uma linha tênue entre oportunidade e ganância. Cobrar valores surreais por hospedagem não é aquecer a economia, é afastar visitantes, constranger a imagem de Belém e colocar em risco um evento que deve marcar positivamente a história da cidade.
Mais do que um ajuste nos preços, Belém precisa de um ajuste de consciência. A COP30 é a chance de mostrar ao mundo a potência que somos: rica em cultura, biodiversidade e humanidade. Começar essa recepção com preços irreais é trair o espírito de transformação e orgulho que deveria nos guiar neste momento histórico.