ES: adolescente usa arma do pai e símbolo nazista em ataque a escolas
Após ser apreendido como principal suspeito de autoria do ataque a duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, um adolescente de 16 anos confessou o crime, informou a Polícia Civil do estado. O jovem contou que vinha planejando a ação há pelo menos dois anos. O adolescente é filho de um policial militar.
“Os pais estavam destruídos e colaboraram muito com o nosso trabalho”, disse o delegado da Polícia Civil, João Francisco Filho, que apresentou os detalhes da apreensão ao lado do governador Renato Casagrande, do secretário estadual de Educação, Vitor de Angelo, e do secretário de Segurança Pública, Marcio Celante. De acordo com o delegado, o adolescente foi encontrado em um dos imóveis da família no município. A operação foi tranquila e houve cooperação tanto dos pais quanto do autor do crime.
Já se sabe que o adolescente usou duas armas de responsabilidade do pai: um revólver de calibre .38, de propriedade privada e uma pistola .40 pertencente à Polícia Militar. Ele também levava três carregadores. O governador Renato Casagrande confirmou que, no momento do crime, o adolescente usava uma braçadeira com um símbolo nazista.
Imagens das câmeras de segurança registraram a ação. O atirador vestia roupa camuflada e uma máscara de esqueleto, similar à usada em fotos nas redes sociais por um dos autores do massacre ocorrido em 2019 na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, São Paulo.
Motivação
A ação do adolescente começou pela Escola Estadual Primo Bitti, onde ele arrombou o cadeado de um dos acessos e fez disparos matando dois professores e ferindo mais nove. Em seguida, o atirador entrou em um carro e se dirigiu ao Centro Educacional Praia de Coqueiral, uma instituição privada. No local, efetuou novos disparos, tirando a vida de uma aluna e ferindo mais duas pessoas.
Segundo a Polícia Civil, o adolescente é ex-aluno da Escola Estadual Primo Bitti, onde estudou até junho deste ano. A família o transferiu para outra instituição, mas a razão ainda não foi esclarecida.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, durante a apreensão, o adolescente não explicou por que fez os ataques. O delegado João Francisco Filho disse que ele estava tranquilo e não manifestou arrependimento. A apuração preliminar apontou que ele fazia tratamento psiquiátrico. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que o adolescente não tinha um alvo definido e que ele pode ter agido sob estímulo de grupos extremistas, que se organizam de forma virtual dentro e fora do Brasil.
Para Renato Casagrande, a sociedade precisa estar mais atenta aos problemas de saúde mental. Ele pediu que as pessoas fiquem atentas ao comportamento de filhos, netos e irmãos, para que possam identificar situações em que seja necessária ajuda profissional. Considerou ainda que a comunidade escolar também deve estar vigilante.
O governador manifestou resistência a medidas que busquem dificultar o acesso às escolas ampliando as grades e os muros. “Escola não é para isso. Escola é para educar, para formar pessoas, para poder conviver com quem pensa diferente. Então os sinais de problemas de saúde mental são sinais que precisam receber atenção”, reiterou.
Choque
A prefeitura de Aracruz divulgou nota informando que as aulas da rede municipal foram suspensas. As crianças que estavam nas escolas foram dispensadas. Casagrande informou que a retomada das aulas na Escola Estadual Primo Bitti ainda será discutida nos próximos dias. O prefeito de Aracruz, Luiz Carlos Coutinho, disse que as famílias das vítimas já estão sendo identificadas para receber assistência.
O clima é de choque na comunidade escolar do município. “É muita tristeza. É uma impotência. Aconteceu na escola [em] que eu trabalho, com os meus colegas e as minhas colegas, entende? Não sei se consigo voltar para a sala de aula e dar aula”, disse a professora Leilany Campos, que leciona na Escola Estadual Primo Bitti.
Segundo Adriana Alves, diretora de uma escola infantil do município, a notícia gerou uma onda de desespero especialmente entre pais e educadores. Ela conta que, logo após o ocorrido, a Polícia Militar recomendou a todas as escolas manter os portões fechados. “Estamos vivendo um terror. Não poderíamos imaginar esse tipo de coisa acontecendo tão perto da gente.”
*Colaborou Tâmara Freire, repórter da Rádio Nacional do Rio de Janeiro”
Reprodução: Agência Brasil